O Brasil testemunhou uma eleição histórica em 30 de Outubro de 2022, na qual disputaram pela primeira vez um presidente em exercício e um ex-presidente. Entre o primeiro e segundo turnos a campanha eleitoral foi marcada por acusações e insultos de ambos os lados. Por fim, Luiz Inácio "Lula" da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), emergiu como o vencedor do segundo turno com 50,90 %. O seu adversário, o atual presidenteJair Messias Bolsonaro do Partido Liberal (PL) alcançou 49,10 %, com, uma diferença de 2,1 milhões de votos. Lula concorreu com o slogan de campanha "O Brasil feliz de novo", mas resta saber se em que medida a sua vitória reduzirá a radicalização do país polarizado. É de notar que dos 27 estados, 14 estavam mais próximos a Bolsonaro e 13 de Lula.
As pesquisas eleitorais de dezembro de 2021 até outubro de 2022 mostraram progressiva diferença entre os dois candidatos para a eleição presidencial, com estabilidade de Lula e ascensão de Bolsonaro. Em dezembro de 2021, as pesquisas eleitorais indicavam possibilidades de vitória de Lula, considerando a margem de erro, em um primeiro turno, com 48% das intenções de voto contra um 22% de intenções para Bolsonaro.
No entanto, nos meses que se seguiram, Bolsonaro ganhou vantagens ao longo do ano eleitoral, com a ajuda da aprovação de medidas populistas. Questões como a redução no preço dos combustíveis e o aumento de benefícios sociais impactaram a recuperação de Bolsonaro nas pesquisas. Nos meses de agosto e setembro, mais de 2 milhões de famílias receberam o benefício do Auxílio Brasil com o valor aumentado de R$400 para R$600, aprovado dentro da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 1/2022. Antes do 2º turno da eleição, no 30 de outubro, essas famílias foram impactadas diretamente por 3 meses de benefícios, correspondente aos meses de agosto, setembro e outubro.
Em primeiro lugar em número de votos, com mais de 57 milhões em números absolutos, Lula venceu o primeiro turno, com 48,43% da votação, seguido de Bolsonaro, com 43,20%, com mais de 51 milhões de votos. Os demais candidatos não lograram maior expressividade: Simone Tebet (MDB) logrou 4,16% dos votos, seguida de Ciro Gomes (PDT), com 3,04%. Os demais candidatos obtiveram menos de 1% na votação.
Candidatos principais
A seguir, apresentamos brevemente os candidatos à presidência e vice-presidência das eleições de 2022. Nas convenções partidárias - 20 de julho a 05 de agosto - foram definidas as candidaturas de fato. Os pedidos de registro formal foram entregues até o dia 15 de agosto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por suas legendas.
Confira aqui as propostas dos candidatos.Luiz Inácio "Lula" da Silva (Partido dos Trabalhadores - PT) e Geraldo Alckmin (Partido Socialista Brasileiro - PSB)
Lula (PT) é um ex-metalúrgico e político brasileiro, presidente da República entre 2003 e 2010. Em 2018, foi impedido de se candidatar à Presidência em razão da Lei da Ficha Limpa, que não permite que condenados por órgão colegiado sejam candidatos. Foi condenado pelo então juiz federal Sérgio Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. Em 2021, as condenações contra Lula foram anuladas. Apesar disso, o fato de que muitos de seus companheiros do PT foram pegos em esquemas de corrupção, aliado à forte empreitada da mídia contra sua figura, desgastam até hoje a imagem do ex-presidente. A inserção de Geraldo Alckmin na chapa como vice-presidente funciona como estratégia eleitoral, trazendo Lula ao centro com o objetivo de reduzir a rejeição junto a eleitores mais avessos ao voto no campo da esquerda. Mesmo dentro da esquerda, há resistência a sua figura pela aliança com Geraldo Alckmin (ex PSDB, atual PSB), considerado uma persona da direita brasileira, e também por alianças com o empresariado brasileiro à época de seu mandato. Lula e Alckmin são dois antigos rivais pela antiga disputa PT x PSDB que marcou as eleições presidenciais no Brasil de 1998 a 2014.
Jair Bolsonaro e Walter Braga Netto (Partido Liberal - PL)
O candidato a vicepresidente da chapa é o general Walter Braga Netto quem se filiou ao partido em março.
A composição da chapa por um Capitão do Exército reformado e um General do Exército simbolizam o aumentou da influência das Forças Armadas na política brasileira durante os últimos 4 anos do governo do Bolsonaro. A escolha do General Braga Netto, ex-Ministro da Defesa e da Casa Cicil do Governo Bolsonaro, é caracterizada pela priorização de colocar alguém de confiança e que traga segurança à cabeça da chapa, em detrimento de um vice que possa atrair mais votos.
Ciro Gomes e Ana Paula Matos (Partido Democrático Trabalhista - PDT)
Ciro Gomes (PDT) é um político brasileiro, ex-governador do Ceará, ex-ministro da Integração Nacional do governo Lula, advogado e professor universitário. Candidatou-se à Presidência da República nas eleições de 2018 pela terceira vez - também foi candidato em 1998 e 2002 - e ficou na terceira colocação, com 12,47% dos votos no primeiro turno. Ciro representa uma alternativa no âmbito de uma esquerda mais próxima ao centro, mas tem enfrentado dificuldades para se sobressair por conta de seu espírito intempestivo, pouco conciliador, e as dificuldades de montar alianças. A chapa pura - quando um único partido lança candidatos para o Executivo sem fazer coligações – é realizada, nesse caso, por essas dificuldades do PDT de conseguir apoio. A candidata a vice-presidente pelo PDT e atual vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos, é caracterizada pelo marketing da campanha como mulher, negra e de origem humilde, destacando o combate ao machismo e racismo estruturais por parte da chapa presidencial, apesar do conhecido conservadorismo de Ciro Gomes.
Simone Tebet (Movimento Democrático Brasileiro - MDB) e Mara Gabrilli (Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB)
Tebet é atual senadora do MDB, um partido de centro-direita. Ela já foi deputada estadual, prefeita de Três Lagoas e vice-governadora do Mato Grosso do Sul. Ao longo de 2021, a atuação de Tebet na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia junto a outras senadoras que lutaram por uma cadeira para as mulheres na investigação destacou-a a nível nacional – mesmo com episódios marcados pelas denúncias de machismo no ambiente masculino do Senado.
A chapa com Mara Gebrilli simboliza a desidratada “terceira via” das eleições de 2022. Tem como bandeira a inserção da mulher na política, a defesa aos direitos humanos e das pessoas com deficiência, bandeira trazida pela Gabrilli. Esta chapa indica uma participação mais ativa da candidata à vice na campanha eleitoral e simboliza o resultado das negociações da coligação de MDB, PSDB e Cidadania.Luiz Felipe D’Avila e Tiago Mitraud (Novo)
D'Avila é atualmente filiado ao Novo, partido da direita liberal. O candidato a presidente é um empresário paulistano que vem de família com trajetória na política. Fundou o Centro de Liderança Pública (CLP), organização dedicada ao desenvolvimento de lideranças para a política e a administração pública. Coordenou o programa do ex-governador Geraldo Alckmin na campanha de 2018, à época seu companheiro de partido (PSDB). Tiago Mitraud, candidato a vicepresidente, é deputado federal e lider de Novo na Câmara dos Deputados. A chapa pura do partido traz como uma de suas propostas a privatização de todas as empresas estatais brasileiras e uma ampla reforma administrativa no país na redução do tamanho e papel do Estado. O Novo é um partido criado por pessoas ligadas às instituições financeiras, sem histórico de atuação na política partidária tradicional, trazendo a liberalização econômica como principal bandeira.
José Maria Eymael e João Barbosa Bravo (Democracia Cristã - DC)
José Maria Eymael (DC) - O fundador e atual presidente do partido Democracia Cristã já foi deputado federal por São Paulo de 1986 a 1995. Disputou 5 campanhas presidenciais –1998, 2006, 2010, 2014 e 2018–, mas não obteve êxito em nenhuma. Em discurso, afirma que é a favor de "valores da família" e que defende a adoção de programas de emprego e moradia para o país. É um candidato que representa forças protestantes de direita. O economista João Barbosa Bravo disputará como candidato a vice-presidente. A chapa pura do DC é conhecida pelo conservadorismo. O nome de urna escolhido pelo cabeça da chapa será Constituinte Eymael, em referência à participação do candidato na criação da Constituição de 1988.
Léo Péricles e Samara Martins (Unidade Popular pelo Socialismo - UP)
Chapa pura de ideologia socialista, formada pelo único candidato negro à presidência. O partido Unidade Popular pelo Socialismo (UP) é um partido anticapitalista de extrema-esquerda que prega estatização dos transportes, nacionalização do sistema bancário e reforma agrária com o fim do monopólio privado.
Pablo Marçal e Fátima Pérola Negra (Republicano da Ordem Social - Pros)
Chapa pura do Partido Republicano da Ordem Social, formado por um outsider político e uma policial militar. Marçal é empresário e se formou em direito, nunca tendo disputado um cargo público antes. Durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, o PROS apresentou alinhamento de 80% com o mesmo nas votações do congresso nacional.
Padre Kelmon Luís e Pastor Luiz Claudio Gamonal (Partido Trabalhista Brasileiro - PTB)
Padre Kelmon Luís e Pastor Luiz Claudio Gamonal (Partido Trabalhista Brasileiro - PTB) - A chapa religiosa do PTB simboliza o aumento da relação orgânica entre a Política e a Igreja no Brasil. Uma chapa marcada pelo nacionalismo e conservadorismo social, na qual o candidato original do PTB, o ex-deputado federal Roberto Jefferson, teve sua candidatura barrada pela Justiça Eleitoral pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Dessa forma, o padre Kelmon Luís, pastor da Igreja Ortodoxa, que já esteve em conflito com comunidades quilombolas, está concorrendo à presidência em seu lugar. O novo candidato realizou, em 2021, um discurso em ato pró-Bolsonaro no feriado do dia dos trabalhadores, em São Paulo, tornando-se conhecido nas redes sociais da extrema-direita. O seu atual partido, PTB, o caracteriza como um “homem cristão, conservador e de direita, que sempre se dedicou à igreja e ao combate da esquerda”.
Sofia Manzano e Antonio Alves ( Partido Comunista Brasileiro - PCB)
A chapa pura do PCB tem como representantes a economista Sofia Manzano e o sindicalista Antonio Alves. Manzano desenvolveu pesquisas sobre desigualdade social no sistema capitalista e militou em coletivos de jovens periféricos e movimento negro. Alves esteve envolvido em vários sindicatos e comitês, trabalhou como assistente social e jornalista, e é membro de longa data do partido. O PCB é um partido de extrema-esquerda de base teórica marxista-leninista.
Soraya Thronicke e Marcos Cintra (União Brasil)
A chapa pura do União Brasil é representada pela senadora Soraya Thronicke e o ex-deputado federal Marcos Cintra. O União Brasil é entendido como um catch-all party voltado para a orientação liberal-conservadora com a junção dos partidos Democratas (DEM) e o Partido Social Liberal (PSL) que levou Bolsonaro à presidência em 2018.
Vera Lúcia e Kunã Yporã/Raquel Tremembé (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado - PSTU)
A chapa pura do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado é a segunda chapa 100% feminina da disputa eleitoral. Vera Lúcia iniciou sua militância quando trabalhava como operária em indústria de calçados. Foi a primeira mulher negra a disputar a prefeitura da cidade de São Paulo e convidou a indígena Kunã Yporã, também chamada Raquel Tremembé, como vice de sua chapa. O PSTU é um partido de extrema-esquerda de base teórica trotskista.